Sempre estarei buscando os meus sonhos

26 maio, 2010


Ando muito triste.
Meu andar, é caminhar.
Porém, sinto muita tristeza.
Minha caminhada não é um sentimento.
Ou seria o sentimento a minha caminhada ?
Tanto faz, como tanto fez.
Não importa mais se caminho
ou se estou triste,
pois o fato é que sou, caminho
e sinto tristeza.
O sentimento da alma distante de Deus:
Isso é a tristeza.
Não importa mais se ando triste
Ou se sinto-me triste
Pois a tristeza imperou no final.

O abstrato é belo, pelo apelo ao desconhecido.
O mistério dá gosto à existência.
Seria uma forma de morte,
Uma vez que a dança sublime é oculta ?

Não importa. Que a dor dance consigo, vou emergir. Não os deixarei apoderar-se de mim. Boa noite...

A clarividência é um dom, diria a gentil senhora. Eu a chamo de maldição, o tal do dom, por você acabar conformando-se com o que pode ser mutável. Trazer a imutalidade ao mutável não é uma escolha inteligente. Mas também, talvez os tolos busquem a inteligência. Vale mais a sabedoria do que a esperteza. Seria possível adquiri-la sem o inquérito inteligente ? Você sabe a resposta. Eis o segredo da maldição.

"Mas lembre-se, garoto: Um ato bondoso às vezes pode ser tão poderoso quanto uma espada. (...) Às vezes pequenas coisas podem se tornar realmente grandes."


A loucura parece insanamente e intensamente alegre e dolorosa. És um sentimento tão puro, nobre, mas tão repudiado. Seria um ato sábio aceitar a loucura ? Que as ninfas protejam o jovem, pois ele está sendo diagnosticado como louco...

25 maio, 2010



Mistério seduz minha mente. Perambulo entre ruas e avenidas apenas com um desejo: encontrar-te, suave harmonia da morte.
Como podes ser tão bela perto de todas as outras cousas ? Como pode possuir tanta sintonia e harmonia ? A brisa bate sob meus pés, meus sentidos não permitem sentir, mas eu sei, algo dentro de mim alerta que bem abaixo de mim há uma infinidade de criaturas que minha imaginação não é nem sequer capaz de prever. Não me importo. Caminho, trago o meu cigarro, meu fiel companheiro que a cada dia me leva mais próximo de ti. Meus olhos não são mais os mesmos, carregam velhice, dor e muitas jazidas de lágrimas. Meus cabelos foram, certa vez, finos e belos. Agora, oleosos e descuidados lutam contra o vento.
Esse é o estado de quem transcende. Para compreender o infinito, deve-se esquecer do finito. Ou nem eu sei o que estou dizendo, mas o fato é que somente com a dor e o sofrimento você consegue desapegar-se do mundo. Essa é o verdadeiro escape dos pessimistas, taxicômanos e depressivos: ligar-se a um mundo de aparentes trevas para desligar-se de um outro universo de pseudo luzes.

Não há como saber o que sentir. O casaco está pendurado na parede; o ventilador, desligado no canto. A janela sopra um suave convite para o céu, para o vôo, para a liberdade. Mas o que seria estar livre ? Ser livre nada mais é do que ter noção dos seus valores. Eu possuo valores ? Não. Você não possui nada, pois você é um vácuo. Vácuos não são capazes de possuir. Faz-se mister salientar que, sendo um vácuo, pelo menos você é quem faz o labor de limpar a bagunça das mentes. Você sabe, não é mesmo ? Eu sei que você sabe o seu futuro. Não é assim tão distante e raro de se imaginar. Não digo de coisas simples e voluptuosas como sucesso, poder, isso tudo é muito pouco e muito estúpido. Digo da insanidade, a fúria dos outros por verem o seu talento. Não são todos capazes de enxergar a si próprios, de enxerga-los. Foram pouquíssimos os homens neste planeta que conseguiram interpretar tais signos.

E a doce melodia recomeça. Era uma tarde de outono, o chá encontrava-se gelado. O que mais poderia ser quente ? Quando se está cansado da vida, a morte o visita retirando o calor. Anti-mônio para os demônios, tungstênio para a fortaleza. Do que adianta possuir teoria se você não conhece a prática ? Você tentou, você persistiu. Disseram-lhe que os grandes trabalhos são obtidos por perseverança, não força bruta. Será que sua perseverança não foi julgada como suficiente ? Provável... Mas não importa mais, você não se importa mais. Mesmo com os rituais, ou os poderes, você está farto. Farto de ter luz e não saber usa-la. Farto de ter conhecimento e não poder compartilha-lo. O mais irônico é que você chorou a vida toda por algo que, quando fora seu, você chora por ter. A vida é irônica, só sabe vivê-la quem poem o conhecimento em prática. Você tem o conhecimento, mas você não sabe interpretá-lo. Seus mestres o abandonaram, dizem para você crescer sozinho. Não julgue seus mestres, mas eu o compreendo, quando você lê que os mestres dedicam o dia ensinando tudo o que sabem para seus aprendizes, você sonha que isso seria com você. Você não é um aprendiz, você é apenas a escória do conhecimento. Os dévicos desistiram de você, os humanos então ? Nunca sequer gostaram. Você já foi um dia chamado de grande potencial. Porém, seus erros foram tamanhos que só com o recomeço terá salvação. Mas não chores por isso, jovem criança. Todos aqueles que conseguiram, tentaram e erraram tentando. O sucesso nada mais é do que o acaso, não é você quem define o sucesso.

Tal artrópode parece úmido, imóvel, imutável. Mas o que seria imutável ? A Natureza é tão grandiosa e você não sabe aproveita-la. Não foram os dévicos que desistiram de você, foi você que desistiu dos dévicos. Como você quer que quebrem uma Lei e se fodam por sua causa sem tentar ? As Leis não são quebradas nem marginalizadas, você que precisa se encaixar na lei. Todavia, eu compreendo a sua carência. O domínio dos elementos não é uma brincadeira de criança, e você é uma criança. Não creio que estejas no caminho errôneo, mas não custa nada tentar. Nunca percas a fé, jovem. É com a fé que a transmutação ocorre. Afaste-se de quem faz mal a você. Você sabe que fazendo o que queres, há de estar de acordo com a Lei. Mas você vê vê as pessoas se afastando e pagando. Seriam elas que não fazem o que querem ? Tantas dúvidas súbitas e letais, não é uma brincadeira, não é uma brincadeira...

As mentiras se vão tão rápido. Você se importaria se eu não tivesse o que dizer ? A minha luta está em ficar em silêncio, mas você não permite. Aliás, eu nem sei quem é você, mas obrigado por me fazer companhia. Lágrimas caem sob minha face e eu nem sei o porquê. Tudo o que desejava está em suas mãos, o que você pode fazer ? E o medo ? O medo da dor. Você conhece o fundo do poço melhor do que ninguém, você possui até a sua suíte vip. Mas e as pessoas com quem você se importa ? Elas só tiveram vagas passagens. É complicadíssimo o caso, ainda mais quando a responsabilidade está em suas mãos. O que você faria em meu lugar ?

Quando fico a pensar em não ser nada, o nada apodera-se de mim. Enquanto espero a doce lua aparecer, com seus brilhos de leves estrelas, vejo como faço parte de um vasto e obscuro mundo. E, nesses momentos que aparecem turvas imagens da beleza, meu espírito chora, em silêncio. Pois nada mais são do miragens, sonhos distantes, intocáveis, impenetráveis, irreais. Por que sou condenado a viver na irrealidade ? Pois, quando estou só, completamente só, vejo como a margem do obscuro é impossível de ser alcançada, e anseio imergir no nada, mas a hora tão sonhada cospe-me violentamente para fora.

O que é belo, há de ser eternamente. Pelo menos, é o que Keats disse. Há de se viver da alegria, que é eterna, e seguir a morte do presente. É o meu consolo para a volta dos sonhos, das séries de acontecimentos. Sujo-me, e é tudo sobre sabor, cheiro, toque, cor e mão na massa. Tamanha sujeira que faço é, na tentativa, de se limpar. Meus amigos dizem que boas intenções revelam um coração puro. Destarte, eu estaria bem. Minha mãe diz que de boas intenções o inferno está cheio, creio eu que concordo com ela. O que vale, para o Julgamento, são suas ações, não suas intenções. E, infelizmente, minhas ações são uma coletânea de podridões.

Não sei mais o que digo, penso e ajo. Melhor parar por aqui, obrigado pelo tempo que esteve comigo, ninguém.

My life...

20 maio, 2010

"Todas as experiências que fazemos passam pelo crivo de uma experiência original ou elementar. Essa experiência elementar consiste em um conjunto de exigências que servem como um critério de avaliação de tudo o que fazemos ou encontramos.
Às exigências estruturais do homem podem ser dados muitos nomes (exigências de felicidade, verdade, beleza, justiça etc) e são elas que nos põem em movimento, pois tudo o que fazemos e desejamos dependem delas. É a marca interior que os homens têm em comum uns com os outros: para além das inúmeras diferenças culturais, temperamento e gosto, todos ser humano possui essa experiência elementar que, traduzida e vivida das mais diversas maneiras, é substancialmente a mesma para todos nós. Todo ser humano, pelo simples fato de existir, afirma ainda que inconscientemente um desejo de felicidade, beleza, justiça, verdade – em suma, de realização total e plena, que é expressa muito bem na música “Comida” de Titãs: queremos algo a mais que a comida e a bebida, isto é, do básico para continuar sobrevivendo. Esta é a dignidade da existência humana.
Quem quer se tornar maduro sem ser enganado, instrumentalizado e escravo dos outros, deve se habituar a comparar tudo com a experiência elementar. É preciso aprender a não aceitar passivamente tudo o que a mídia e a moda nos apresentam: diante de qualquer acontecimento ou encontro, devemos nos perguntar se o que estou experimentando corresponde a nosso verdadeiro desejo de felicidade, justiça, beleza e verdade. Esta é uma tarefa nada fácil, pois a mentalidade dominante dos nossos dias tende a ditar normas de pensamento e comportamento, abafando e alterando os critérios originais dos quais somos dotados. E o resultado disso é a alienação e a distração com o nosso próprio eu, quer dizer com muita freqüência pensamos que desejamos algo e de fato quem deseja por nós é a mídia, o grupo social, etc. O trabalho todo neste curso pretende ter uma ajuda para se saber qual o desejo verdadeiro em cada situação que a vida oferece.
O desafio mais audaz a mentalidade dominante é tornar habitual em nós a avaliação de tudo à luz das nossas existências estruturais e não à mercê das reações instintivas de um momento ou de acordo com o que ditam os meios de comunicação de massa. Aquilo que cada homem tem o direito e o dever de aprender é a possibilidade e o hábito de comparar cada proposta com a sua experiência elementar: este é o início da experiência de liberdade". ~ Professora da Bruna de Antropologia Filosófica

Independentemente da cultura e bagagem que uma pessoa traz consigo, toda humanidade possui certas metas de vida em comum como amor, paz, justiça, boa aparência, entre outros. Este é o alicerce que sustenta a humanidade, a eterna busca por valores considerados ideais. O grande problema está nos grandes veículos de comunicação em massa que nos ditam idéias prontas para se pensar, eliminando a nossa liberdade de pensamento e da vida em geral. A experiência elementar consiste justamente neste ponto: saber diferenciar a opinião da mídia do nosso próprio pensamento, tornando assim, possível a nossa liberdade, uma vez que conhecemos o que realmente pensamos e consideramos.

Recentemente, com a Lei Anti-fumo, o cigarro é considerado o maior inimigo da saúde. As pessoas esquecem que se, por exemplo, alguém fumar 3 maços de cigarro por dia durante 3 anos, a pessoa não apresentará nenhum efeito grave como câncer ou necrose. Porém, se uma pessoa passar 3 anos de sua vida embriagando-se, ela irá apresentar loucura, poderá adquirir sérias doenças psiquiátricas e a saúde ficará extremamente debilitada. A opinião massiva associa o cigarro com sujeira, com morte, com asco. Todavia, esquece que o álcool é uma droga lícita muito mais letal onde a cultura permite livremente o seu consumo. Enquanto eu andava na rua, deparei-me com este maço de cigarro e este pequeno, mas complexo, pensamento veio em minha mente, o que o tornou importante pra mim, uma vez que acredito que passei pela experiência elementar, saindo da óptica comum.


Renovando-se com a morte de cada dia, encontro a sabedoria... pelo menos, tenho fé nisso.

06 maio, 2010

Um desabafo à minha antiga estrela do amanhã

Sei que é um pouco orgulhoso de minha parte, e soa até irônico, vindo de alguém que tanto criticou o seu orgulho. Por favor, compreenda, eu sofri muito. Possuo cicatrizes eternas causadas por você. Não tenho a intenção de te acusar de nada, não há certo e errado quando se fala de amor, e até porquê eu nem irei mostrar isso a você. Apenas como um desabafo resolvi redigir aqui o sentimento que agora está pulsando aqui como na velocidade da luz. Eu realmente não te conheço, mas não é uma provocação o que faço também, a verdade é que sempre quis te conhecer.
Quando o vi pela primeira vez, você era uma pessoa doce, gentil, romântica. Eu nunca conheci ninguém com aquelas palavras, aquele olhar, aqueles toques. Não sei se sinto saudades, provavelmente sinto, uma vez que sou um eterno carente. A verdade é que realmente amei você de uma maneira que me sufoca, até hoje não consigo compreender como fui capaz de amar tanto alguém. Hoje somos amigos, iremos viajar, iremos para o show, eu tenho consciência e nem quero que se repita tudo aquilo. Já é completamente contra os meus princípios ser seu amigo, imagina ainda sequer pensar na possibilidade de um recomeço. Mas... egoísmo, sadismo, masoquismo, sentimentalismo, orgulho a parte, ou melhor, sentimentos ruins a parte, a verdade é que sempre te admirei por aquilo que avistei ao mar. Tamanho carinho, preocupação, palavras, gentileza... aquilo era tão... dévico.
Eu só posso agradecer por tudo que passamos juntos, não sei como explicar. Eu serei eternamente grato por cada palavra, por cada gesto. E eu não quero lembrar de momentos ruins, de sentimentos ruins, pessoas frustradas e rancorosas vivem assim. Eu não desejo ser assim, sinceramente, abomino essa idéia. Apenas lembro do mar, as ondas na gente, a gente rindo, vivendo cada segundo. Os beijos escondidos por medo de alguém ver. O céu estava tão nublado, mas ao mesmo tempo tão aberto aquele dia ! O cheiro era tão marítimo, eu me sentia tão seguro, tão digno de ser amado, tão pronto para renascer...
Lembro das preocupações com minha amiga, deprimida, achando que nos atrapalhava. Mas... como descrever algo tão divino ? Era empático o que tínhamos naquele momento. Não precisávamos nos deitar, fazer amor, nem sequer nos tocar, apenas a presença, o fato de estarmos tão próximos, de tudo parecer realmente um sonho, aquilo valia mais do que qualquer prazer, do que qualquer palavra, do que qualquer olhar.
Eu não quero romantizar, apenas... é uma história romântica ! Nunca vou esquecer de assistir "Morte em Veneza" de mãos dadas, os planejamentos de sonhos, de viagens, de encontros, de amor. Você me ensinou a respirar arte, a viver o momento, você me ensinou como sentir. Você me ensinou a gostar de gêmeos, e só poderia ser com você, com mais ninguém eu conseguiria aprender tudo que você lecionou.
Porém, assim como o mar que tanto amei compartilhar a sua presença, você entrou de ressaca. Sugava-me, tragava-me, a violência. Comecei a conhecer uma face que não era você, minha consciência parecia até feminina, pois eu só me remetia ao passado, passado de gentileza, de empatia. Eu definitivamente não sou de viver o passado.
Agora, depois de tudo que já vivemos, discutimos, não tenho mais coragem de chegar e lhe dizer isso. Se apenas um aprofundamento de conversa já me deixou no estado em que estou, imagina então vencer distâncias e barreiras para dizer que a verdade é que tudo que aconteceu foi por eu conhecer uma fase negra, uma nebulosidade nessa praia. Eu não aguentei, era muito pesado para tanto idealismo romântico da época. A verdade é que eu sei que você é gentil, eu sei que romantismo define você, assim como sei que você vive o momento muito mais do que eu. Seria impossível para uma esponja espiritual, como você e minha mãe, mantermos algo tão a distância, ainda mais quando você convive com pessoas tão realistas. Porém, algo em mim, bem no fundo, diz que você é sim uma eterna brisa de primavera, completamente sonhadora, uma pessoa eternamente fora do ar. Em meio a tanto ar, para quem viveu a vida toda apenas na água, produzira tamanha maremoto ! Mas só posso dizer... como sou grato a tudo isso ! Hoje, de volta à superfície, sinto falta do sentimento. Mas só posso dizer que pude conhecer as profundezas, o fundo das trevas e voltar vivo, graças a você.
Você é o verdadeiro sábio, e eu tiro o meu chapéu. Preciso ainda aprender a devanear como você, a filosofar como você, a literalmente pirar como você. E eu sei, hoje, que sou capaz disso ! Você é literalmente a estrela que me guiou para isso. Eternamente obrigado, doce brisa, por ter passado em minha vida e a mudado de uma maneira tão radical.
Além disso tudo, gostaria de dizer e, do fundo do coração acreditar, que a verdade é que apenas conhecemos a casca um do outro. Eu não conheci o seu verdadeiro eu, que tenho plena certeza que é belo como o mais antigo conto de fadas, assim como você não conheceu o meu, que é mais nebuloso do que a mais antiga tempestade. Chego a triste conclusão de que mudei tanto no decorrer da minha vida que nada sei. Não sei mesmo. Não sei como penso, não sei como sinto, não sei como reajo. Talvez você sim que me conheça profundamente, mas não gostaria de acreditar nisso, isso me faria um pequeno monstro arrogante. Eu não desejo isso. Eu realmente acredito que possuo um imenso coração e uma capacidade para amar gigante. Acreditar ? Não. Disso eu tenho certeza, pois isso, eu aprendi com você.
Eternamente obrigado, novamente, por tudo. Um beijo cálido como a brisa do fim do outono, anunciando a chegada do inverno, que é o que sou, mas com sentimentos que a tornam mais quente do que a maior clareira do Olimpo !
Com muito, mas muito amor e gratidão,
Artur

À beira da janela, sonho.

01 maio, 2010

Anabelle

Em meio a tantos sonhos, aí está você. Suas madeixas cor de luz, em contraste com sua pele branca como a morte fora um dia. Aline, eu dizia. Por que praguejara tamanha maldição em meu despôr ?
Mesmo após a morte, eu sei que o seu coração continua puro.
Por favor, Anabelle, não me deixes. És tão difícil viver, és tão difícil carregar tanta culpa. Esse peso de assassinar tantas pessoas, de tantas pessoas chorarem por minha causa.

Um viajante da noite, é nisso que tu me transformaras. Perambulo, vagueio. Em meio a uma infinidade de cigarros e álcool, o seu doce cheiro apenas passa como uma leve brisa do sereno da noite. Apesar de tantas mortes, tanta culpa, o meu maior sofrimento é a sua falta. Você me chamaria de criança, pra variar, com seu gélido toque acariciando a minha barba, o meu pescoço e, por fim, daria-me um belo beijo. Apesar de tantos anos terem se passado, eu continuo mesmo sendo aquela criança. Dor dor e dor. Certa vez, um amigo disse que uma das cousas que mais digo é 'desculpe-me'. Isso me trouxe tantas lembranças de você, Anabeth.

Nesse vazio que a maldição tornara, sou agora um misto de lágrimas, fumaça, álcool, solidão, dor, culpa e vazio. Tentei preencher esse vazio com mulheres, com homens, com animais. E, agora, desejo a morte novamente, assim como no dia em que te conheci. Não agüento mais essa raça podre. Eu sei, tu me disseras: "No mundo material, tudo é fórmula, todos são arquétipos, tudo que fora um dia, voltará a ser. Tudo que és, voltará a ser". Eu sabia que chegaria denovo o antecessor do dilúvio, mas eu não esperava que fosse tão rápido. Essa raça tornara-se novamente podre, vil, com o único intuito de destruir. Por que eles nos chamam de animais, sendo que eles que são as verdadeiras bestas ?

Nesse caminho de fogo, continuo vagando. Até hoje, continuando achando graça em como eles são programados para sentir atração pela nossa pseudo beleza, pseudo mistério. Torpes. Nesses voluptinosos caminhos, só posso chegar a triste conclusão de que a traição fede como esterco. E, apesar das minhas belas e sutis lembranças, você além de abandonar, traiu-me.
Não sei se ligo mais. Lembro daqueles formosos tempos de primavera, a glória da manhã pegando o seu azul mais belo e, nós, gastando tempo livre naquele parque. Eu dizia: "Perdão é uma benção, temos de perdoar a tudo e todos, ninguém possui consciência de seus atos até poder visualizar de fora, transforma-me e verás que estou correto. A única coisa que não é divina, que não é digna de perdão, é a traição". Risos grotescos saem do mais profundo do meu ser.

Todavia, eu estava certo. Na verdade, não sei. Eu preciso continuar a acreditar, se não, não há mais motivo para perambular. Apesar de tudo, o ser humano ainda me encanta, ainda tens imbrogliado-me.

Estou farto de pensar, de filosofar. Eu não consigo mais dormir, Anabelle. Como gostaria de acordar daqui 500 anos assim como fazíamos quando ajudávamos o cúpido a achar sinceros corações. Será que tu ainda recordas do dia em que brincamos com as Ninfas ? Ou do dia que os Sátiros tocaram aquela doce melodia na Flauta Doce para nós ? Eu me recordo de cada detalhe, de cada lembrança. Sonhei com você essa noite, Anabelle. Se você deseja aparecer novamente em minha vida, estou no Brasil. Não seria novidade tomar consciência de que você me observa, esse alimento não me deixa ter suas vantagens. Destarte, estou pedindo, Anabelle, volte para mim... apenas me explique o que será que fiz de tão bestial para você me trair e me largar como traças devoram os meus diários e meus livros.

É apenas uma súplica, minha tão nobre e estimada. Anabelle.