"Amar é cuidar, é querer sempre o bem, independente com quem. É ter no sorriso do amado, o seu sorriso. É ter na alegria do amado a sua própria alegria, mesmo que ele não esteja ao seu lado." - Dominique Louvain
Entristece-me profundamente as pessoas que preferem a independência solitária do que a dependência mútua.
Acredito fielmente que o que nutrimos em nós, atraímos para nós. Se somos capazes de nutrir tanto amor por nós mesmos, não consigo entender o medo da dependência.
Dependemos de um sistema eletrônico logo ao acordar: o despertador, e estamos bem com isso. Dependemos de um sistema de transporte, seja público ou privado, para nos locomover, e estamos bem com isso. Dependemos dos outros somente por habitar o mesmo espaço que eles.
Mas a dependência magnânima que é o único motivo que me faz estar aqui, até hoje, depois de tanto sofrimento, é a fé.
Não me aprofundo ao dizer fé para tanger religião, tampouco as pessoas. Disserto sobre a fé como estrutura. Como sequer podemos nos sustentar fisicamente se não houver um chão?
As pessoas podem colocar suas estruturas em dinheiro, em sentimentos, em medos, mas creio eu que nenhuma estrutura seja tão recôndita como a fé.
É muito triste pensar que somos capazes de criar tanto, e uma falsa ideia oriunda de uma profunda arrogância dê crédito por isso a nós mesmos. Por mais que alguém seja capaz de se amar, esquecemos que nem o nosso corpo pertence a nós. Se pertencesse, teríamos controle sobre suas funções involuntárias. Há muito medo, há muita dor. As pessoas estão cada vez mais perdidas e cada vez mais distante de si mesmas, mas a única coisa capaz de nos permitir que nos entreguemos, que faça abrirmos mãos de nós mesmos, é dar asas à imaginação, é ter fé.
Por isso, pergunto-me: alguém sincero consigo mesmo, alguém capaz de explorar suas sensibilidades, alguém que não tem vergonha em dizer que precisa dos outros, que gosta dos outros, que chora sem timidez, alguém capaz de nutrir fé em si mesmo e nos outros que vive se decepcionando e sofrendo, caindo e levantando, alguém que expõe suas fraquezas e, mesmo assim, enfrenta e vence os obstáculos da vida, é essa pessoa fraca? Ser sensível é ser fraco? Quanto mais eu envelheço, eu penso que não.
É preciso muita coragem, muita iniciativa para enfrentar o mundo, as pessoas e impor seus sentimentos. Acredito sim que as pessoas que mais se destacam são violentas, são egoístas, não se importam com os outros. Porém, para mim, elas se destacam por haver um público. E quem é este público? Eu, você, nós.
Somos animais, somos cruéis, gostamos do poder e queremos subjugar uns aos outros imersos em um imenso ecossistema falido onde o canibalismo foi proibido, então nossos instintos divertem-se ao matar psicológicamente uma pessoa. Mas isso é reflexo de cadáveres muito conhecidos por nós: nós mesmos. Não há vida onde há morte e, infelizmente, em grande parte de nossa vida estamos mortos.
Não é natural desejar tanto mal aos outros. Não é natural sentir tanta raiva, tanto ódio, tanta destruição. Foge à lógica. Se alguém está bem consigo mesmo, por que se incomodar com a existência dos outros? Por que se importunar com o que é diferente à nós se está satisfeito em ser como é? Por que molestar quem é considerado "inferior"? Daonde nasceu tamanha busca por poder, possessão e obsessão? Por que ainda se orgulhar em não ser agradável, não ser carinhoso, não querer manter a paz e a harmonia, por que o gosto pelo caos? Onde está a lógica disso? É, estamos mortos, não há vida nisso.
Para mim, redigindo de maneira totalmente desprovida de ideais éticos, morais e/ou religiosos, apenas filosofo comigo mesmo de madrugada: o que é ser humano? É buscar tanta destruição? Onde está o chão para se pisar?
O dicionário on-line aqui define humano para mim como "Sensível à piedade, compassivo: mostrar-se humano com seus semelhantes." Estamos sendo humanos?
Como somos capazes de por tantos anos em nossas vidas nutrir a inveja, a futilidade, a cega busca pelo poder e, se não bastasse isso, disfarçar como um lobo que se oculta atrás da face de um cordeiro? Qual é a humanidade presente nisso? E ainda tem quem diga que se ama, orgulhando-se por nutrir destruição. Todos estão sem fé, ninguém acredita mais em si mesmo, mas o que realmente choca é a hipocrisia em negar e mentir não para o mundo, não para os outros, mas mentir para si mesmo que sim, confia em seu taco, tem muitas capacidades, "é melhor do que os outros"...
Pff, isso não faz sentido algum.
Eu só posso dizer que quanto mais envelheço, mais posso me orgulhar de quem sou. Não sou perfeito, mas considero-me à frente (e veja que não é superior, mas apenas à frente por investir na direção oposta) dos outros simplesmente por buscar a perfeição. Que mal há nisso? Que mal há em me perder em devaneios como este que ninguém irá ler (provavelmente só a Cah e o Dan por serem algumas das pessoas mais iluminadas que já tive o prazer em conhecer), sem sentido algum aparente, mas buscando nada mais do que meu próprio bem estar, minha própria lavagem de consciência?
Pior ainda do que enganar, é acreditar na mentira.
Tudo está errado, e tenho uma vontade constante, infinita, em querer organizar tudo, para poder analisar, para poder solucionar, e é impossível catalogar tanto. Mas são séculos, são séculos de erros, e são tantos erros que não consigo compreender como ainda tanta gente sobrevive, pois isso não é viver.
Não faz sentido algum.
Lógica? Lógica para mim é sentir. Sentir que quando se faz bem ao próximo, você na verdade não deve nada a ele, você está apenas aprimorando a si mesmo como ser humano. Lógica? Lógica é se posicionar e não ter vergonha de ser quem é, e se permitir fraquejar, e se permitir revoltar, mas nunca, NUNCA perder a humildade em saber que qualquer um é tão capaz como você é, não há diferença nenhuma entre ninguém. Por que precisamos nos odiar quando podíamos nos contemplar?
Contemplação. Aí outra coisa que enlouquece as pessoas. Apaixonam-se por encontrar em alguém tudo aquilo que apreciam, que buscam, mas depois surtam por não possuir justamente o que tanto adoram. Precisamos mesmo ter tudo? Por que a posse? Cada um é perfeito do jeito que é, e é notoriamente humano reconhecer a luz que habita dentro de cada um. Por que buscar trevas? Pois as pessoas, atualmente, são mais trevas do que luz. Isto sim é lógica para mim.
Se alguém é humano, é simples, ela ama aos outros como a si mesmo, e não por uma Escritura Sagrada dizer que é correto, mas por vivenciar isso. E, se alguém se abre a ponto de conseguir sentir que 99.99% das pessoas que habitam este planeta não caminham nessa direção, que caminham em rumo a própria auto destruição, é como se parte delas mesmas morresse com aquilo, e os outros ainda julgam a melancolia. Melancolia é pouco para quem é capaz de perceber isso, este ser é um herói por não se suicidar quanto mais conhecimento adquire. E por que não se mata? Por que não morre já que pensa tanto nos outros? Por profunda contemplação àqueles que nem contemplar a si mesmos são capazes.
Uma vez me deparei com uma obra de um clássico, um antigo pensador grego, famoso por sinal, e era sobre o ato de contemplar. Ele dizia sobre a importância de dedicarmos algum tempo de nossos dias, cotidianamente, para contemplar o trabalho de alguém, e dizia sobre a importância da arte em meio a isso. Eu queria lembrar deste autor, realmente queria ler esta obra um dia, mas realmente se perdeu em minha memória... :(
Mas não adianta. Já são 04h37 da manhã e eu poderia tranquilamente ficar aqui filosofando até amanhã, mas meus olhos doem, meu corpo pede descanso. Descanso por ser exaustivo viver em meio a tanta dor, mas prazeroso sentir que mesmo estando profundamente triste e insatisfeito com tantas coisas ao meu redor, eu cheguei a um ponto que sei que sou capaz de superar a pior das dores, por mais que eu queira evitá-las, instinto de sobrevivência, pô. E como eu sei? Fé, tudo passa, o tempo há sempre de agir por todos. E por mais crítico que eu tenda a ser, e mesmo que eu viva insatisfeito observando mais defeitos do que qualidades e sendo eternamente malcontente sem valorizar o que tenho, sei que haverão breves momentos como esta noite onde irei respirar, parar tudo, e contemplar. Contemplar a mim, a você, à vida. Pode ser raro para mim, afinal, eu não sou humano, sou animal tal qual qualquer um destes que tanto critiquei, mas posso me orgulhar por, pelo menos, querer vir a ser um, um dia.
Quanto ao sofrimento, sim, partes e partes de mim morreram e não irão voltar, e não adianta mais lamentar, transformei-me. Sinto falta de muitas qualidades maravilhosas que eu tinha e infelizmente perdi, em especial, a hiperatividade, a inquietação, a sede por novos conhecimentos, novos mundos, a vontade de fazer tudo acontecer para ontem que me tornava semelhante a um sagitariano: um amor infinito pela vida. O meu amor ao próximo venceu, e a tristeza dele me infeccionou, e a seriedade me tomou, mas mesmo que eu não tenha mais energias para fazer tudo que eu gostaria de fazer, projetar e criar, mesmo que eu nunca seja lido, reconhecido, admirado, não me importa, pois eu amo e sou amado, e sei que, por esta pessoa, eu serei isso tudo. Então acho que finalmente consegui atingir a prática da teoria, realmente basta para mim que somente uma pessoa no mundo me veja, pois é ela com seu brilho e infinito espaço concedido a mim que escolhi para ser o céu que segura esta profunda imensidão que oscila como as ondas na areia que sou, o mar.
E mesmo que às vezes, em tão vasta liberdade que é o ar, eu sinta sua frieza, e sinta falta da umidade e do calor seguro proporcionado pela terra, eu sei que estará sempre ali, desejando-me tragar, e tragado ser.
Te amo, te amo mais que o infinito, te amo com todas as forças do meu ser, irrevogavelmente, incondicionalmente, livremente. Gostaria que um dia você fosse capaz de sentir como eu me sinto, talvez você sinta, eu não tenho como saber, então correção: gostaria de um dia conseguir sentir alguém me amando da mesma maneira que tenho orgulho em saber que sou capaz de sentir por você, pois se me doar é tão prazeroso, sentir seu retorno deve ser a ambrosia dos deuses.
Isto, é fé.
Fotografia, edição e texto por mim mesmo.