Sempre estarei buscando os meus sonhos

01 maio, 2010

Anabelle

Em meio a tantos sonhos, aí está você. Suas madeixas cor de luz, em contraste com sua pele branca como a morte fora um dia. Aline, eu dizia. Por que praguejara tamanha maldição em meu despôr ?
Mesmo após a morte, eu sei que o seu coração continua puro.
Por favor, Anabelle, não me deixes. És tão difícil viver, és tão difícil carregar tanta culpa. Esse peso de assassinar tantas pessoas, de tantas pessoas chorarem por minha causa.

Um viajante da noite, é nisso que tu me transformaras. Perambulo, vagueio. Em meio a uma infinidade de cigarros e álcool, o seu doce cheiro apenas passa como uma leve brisa do sereno da noite. Apesar de tantas mortes, tanta culpa, o meu maior sofrimento é a sua falta. Você me chamaria de criança, pra variar, com seu gélido toque acariciando a minha barba, o meu pescoço e, por fim, daria-me um belo beijo. Apesar de tantos anos terem se passado, eu continuo mesmo sendo aquela criança. Dor dor e dor. Certa vez, um amigo disse que uma das cousas que mais digo é 'desculpe-me'. Isso me trouxe tantas lembranças de você, Anabeth.

Nesse vazio que a maldição tornara, sou agora um misto de lágrimas, fumaça, álcool, solidão, dor, culpa e vazio. Tentei preencher esse vazio com mulheres, com homens, com animais. E, agora, desejo a morte novamente, assim como no dia em que te conheci. Não agüento mais essa raça podre. Eu sei, tu me disseras: "No mundo material, tudo é fórmula, todos são arquétipos, tudo que fora um dia, voltará a ser. Tudo que és, voltará a ser". Eu sabia que chegaria denovo o antecessor do dilúvio, mas eu não esperava que fosse tão rápido. Essa raça tornara-se novamente podre, vil, com o único intuito de destruir. Por que eles nos chamam de animais, sendo que eles que são as verdadeiras bestas ?

Nesse caminho de fogo, continuo vagando. Até hoje, continuando achando graça em como eles são programados para sentir atração pela nossa pseudo beleza, pseudo mistério. Torpes. Nesses voluptinosos caminhos, só posso chegar a triste conclusão de que a traição fede como esterco. E, apesar das minhas belas e sutis lembranças, você além de abandonar, traiu-me.
Não sei se ligo mais. Lembro daqueles formosos tempos de primavera, a glória da manhã pegando o seu azul mais belo e, nós, gastando tempo livre naquele parque. Eu dizia: "Perdão é uma benção, temos de perdoar a tudo e todos, ninguém possui consciência de seus atos até poder visualizar de fora, transforma-me e verás que estou correto. A única coisa que não é divina, que não é digna de perdão, é a traição". Risos grotescos saem do mais profundo do meu ser.

Todavia, eu estava certo. Na verdade, não sei. Eu preciso continuar a acreditar, se não, não há mais motivo para perambular. Apesar de tudo, o ser humano ainda me encanta, ainda tens imbrogliado-me.

Estou farto de pensar, de filosofar. Eu não consigo mais dormir, Anabelle. Como gostaria de acordar daqui 500 anos assim como fazíamos quando ajudávamos o cúpido a achar sinceros corações. Será que tu ainda recordas do dia em que brincamos com as Ninfas ? Ou do dia que os Sátiros tocaram aquela doce melodia na Flauta Doce para nós ? Eu me recordo de cada detalhe, de cada lembrança. Sonhei com você essa noite, Anabelle. Se você deseja aparecer novamente em minha vida, estou no Brasil. Não seria novidade tomar consciência de que você me observa, esse alimento não me deixa ter suas vantagens. Destarte, estou pedindo, Anabelle, volte para mim... apenas me explique o que será que fiz de tão bestial para você me trair e me largar como traças devoram os meus diários e meus livros.

É apenas uma súplica, minha tão nobre e estimada. Anabelle.

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